segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O Amor de Deus


“Deus é amor” está escrito em cada botão de flor que se abre e em cada folha que cresce no campo. Os belos pássaros, que alegram o ar com seus alegres cantos, as flores, perfeitas e delicadamente coloridas, que perfumam o ar, as árvores frondosas da floresta, com sua exuberante e viçosa folhagem — tudo dá testemunho do cuidado paternal do nosso Deus e do desejo que Ele tem de tornar os Seus filhos felizes.


A Palavra de Deus revela o Seu caráter. Ele mesmo declarou o Seu infinito amor e misericórdia. Quando Moisés rogou que Deus lhe mostrasse Sua glória, o Senhor respondeu: “Farei passar toda a Minha bondade diante de ti” Êxodo 33:18, 19. Essa é a Sua glória. Quando o Senhor passou diante de Moisés, ele clamou: “Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado” Êxodo 34:6, 7. Ele é “tardio em irar-Se, e grande em benignidade” (Jonas 4:2) “porque tem prazer na misericórdia” Miquéias 7:18.

Deus uniu nosso coração a Ele por meio de incontáveis provas no céu e na Terra. Através das coisas da natureza e dos mais profundos e ternos laços que o coração humano pode conhecer, Deus procura revelar-Se para nós. Embora de maneira imperfeita, isso representa o Seu amor. Apesar de todas essas evidências, o inimigo do bem cegou o entendimento das pessoas, de modo que elas passaram a olhar para Deus com medo e a considerá-Lo inflexível e incapaz de perdoar. Satanás levou o ser humano a pensar que Deus é um ser cujo principal atributo é a justiça severa, como se Ele fosse um juiz austero, um credor duro e implacável. Ele retratou o Criador como um ser que fica vigiando desconfiado, buscando erros e falhas nas pessoas para que possa condená-las. Foi para remover essa sombra escura e revelar ao mundo o infinito amor de Deus que Jesus veio viver com a humanidade.

O Filho de Deus veio do Céu para revelar o Pai. “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” João 1:18. “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” Mateus 11:27. Quando um dos discípulos pediu: “Senhor, mostra-nos o Pai”, Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não Me tens conhecido? Quem Me vê a Mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” João 14:8, 9.

Ao descrever Sua missão na Terra, Jesus disse: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, pelo que Me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-Me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos” Lucas 4:18. Essa foi Sua obra. Ele saía fazendo o bem e curando todos os que estavam oprimidos por Satanás. Havia vilas inteiras onde não se ouvia sequer uma queixa de doença, pois Ele ali passara e curara todos os enfermos. Sua obra era evidência da unção divina. Amor, misericórdia e compaixão estavam presentes em cada ato de Sua vida. Seu coração se comovia em meiga simpatia para com as pessoas. Ele assumiu a natureza humana para que pudesse ir ao encontro de cada necessidade do ser humano. Os mais pobres e humildes não temiam aproximar-se dEle. Até as criancinhas eram atraídas para Ele. Elas gostavam muito de sentar-se no Seu colo e olhar para aquele rosto sereno, bondoso, cheio de amor.

Jesus não suprimia sequer uma palavra da verdade, mas falava sempre com amor. Ele tinha tato e prestava bondosa atenção ao interagir com as pessoas. Nunca Se mostrava rude, jamais pronunciava uma palavra severa sem necessidade e evitava causar dor desnecessária a uma pessoa sensível. Ele não censurava a fraqueza humana. Falava a verdade, mas sempre com amor. Denunciava a hipocrisia, a incredulidade e a iniqüidade; mas Suas repreensões rigorosas eram sempre proferidas com lágrimas e tristeza. Chorou por Jerusalém, a cidade que Ele amava, a qual se recusou a receber Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Os líderes rejeitaram o Salvador, mas Ele os considerava com meiga compaixão. Sua vida foi de abnegação e repleta de cuidado pelos outros. Cada pessoa era preciosa aos Seus olhos. Embora sempre Se apresentasse com divina dignidade, inclinava-Se com amorosa simpatia para atender a cada membro da família de Deus. Ele via em todos os homens seres caídos, cuja salvação era o objetivo de Sua missão.

Assim é o caráter de Cristo, como foi revelado em Sua vida. Esse também é o caráter de Deus. Do coração do Pai é que brotavam as torrentes da divina compaixão manifestada em Cristo, fluindo até alcançar os filhos dos homens. Jesus, o meigo e compassivo Salvador, era Deus “manifestado na carne” 1 Timóteo 3:16.

Foi para nos redimir que Jesus viveu, sofreu e morreu. Ele tornou-se um “Homem de dores” para que pudéssemos participar das alegrias eternas. Deus permitiu que o Seu Filho amado, cheio de graça e verdade, deixasse um mundo de glória indescritível e viesse para um mundo corrompido e maculado pelo pecado, escurecido pelas sombras da morte e da maldição. Ele permitiu que Jesus deixasse Sua amorosa companhia e a adoração dos anjos para sofrer a vergonha, os insultos, a humilhação, o ódio e a morte. “O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados” Isaías 53:5. Ei-Lo no deserto, no Getsêmani e na cruz! O imaculado Filho de Deus tomou sobre Si o fardo do pecado. Aquele que havia sido um com Deus sentiu de perto a terrível separação que o pecado causa entre Deus e o homem. Isso fez com que um grito de agonia saísse dos Seus lábios: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” Mateus 27:46. Foi o peso do pecado, a noção de quão terrível ele é e a separação que causa entre Deus e o ser humano — foi isso que quebrantou o coração do Filho de Deus.

Mas esse enorme sacrifício não foi feito para despertar no coração do Pai o amor pelo ser humano, nem para fazer com que Ele Se dispusesse a salvá-lo. Não! “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito” João 3:16. O Pai nos ama, não por causa da grande propiciação; mas Ele proveu a propiciação porque nos ama. Cristo foi o meio pelo qual Ele pôde derramar o Seu amor infinito sobre o mundo caído. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” 2 Coríntios 5:19. Deus sofreu junto com Seu Filho. Na agonia do Getsêmani, na morte no Calvário, o coração do Amor Infinito pagou o preço da nossa redenção.

Jesus disse: “Por isso, o Pai Me ama, porque Eu dou a Minha vida para a reassumir” João 10:17. Isto é, “Meu Pai tanto amou você, que mais ainda Me ama por Eu ter dado Minha vida para a sua redenção. Ao tornar-Me o seu Substituto, dando a Minha vida e assumindo sua dívida e sua transgressão, sou amado pelo Meu Pai; por causa do Meu sacrifício, Deus pode ser justo e, mesmo assim, o Justificador daquele que crê em Jesus.”

Ninguém mais, a não ser o Filho de Deus, poderia realizar nossa redenção, pois somente Aquele que estava junto do Pai é que O poderia revelar. Somente Aquele que conhecia a altura e a profundidade do amor de Deus poderia manifestar esse amor. Nada menos do que o infinito sacrifício feito por Cristo em favor da humanidade caída poderia expressar o amor do Pai pelos perdidos.

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito” João 3:16. Ele O entregou não apenas para que vivesse entre a humanidade, levasse seus pecados e morresse em seu lugar. Ele O entregou para a raça caída. Cristo devia identificar-Se com os interesses e necessidades da humanidade. Aquele que era um com Deus Se uniu com as pessoas através de laços que jamais serão quebrados. Jesus não “Se envergonha de lhes chamar irmãos” Hebreus 2:11. Ele é nosso Sacrifício, nosso Advogado, nosso Irmão, tomando a forma humana diante do trono do Pai, e por toda a eternidade estará ligado à raça que redimiu. Ele Se tornou o Filho do homem. Tudo isso para que o ser humano pudesse ser erguido da ruína e degradação do pecado para refletir o amor de Deus e compartilhar a alegria da santidade.

O preço pago por nossa redenção, o sacrifício infinito do nosso Pai celestial ao dar o Seu Filho para morrer por nós, deveria dar-nos uma elevada concepção sobre o que deveríamos tornar-nos através de Cristo. Ao contemplar a altura, a profundidade e a largura do amor do Pai pela raça a perecer, o inspirado apóstolo João encheu-se de um sentimento de adoração e reverência. Incapaz de encontrar uma linguagem apropriada para expressar a grandeza e a ternura desse amor, ele conclamou o mundo a também contemplá-lo. “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus” 1 João 3:1. Isso confere um enorme valor aos seres humanos! Por meio da transgressão, as pessoas tornam-se súditas de Satanás. Por meio da fé no sacrifício expiatório de Cristo, os filhos de Adão podem tornar-se filhos de Deus. Assumindo a natureza humana, Cristo eleva a humanidade. Os seres humanos caídos estão colocados em um lugar onde, através da conexão com Cristo, podem verdadeiramente tornar-se dignos de ser chamados de “filhos de Deus.”

Um amor assim não tem paralelo. Filhos do Rei celestial! Essa é uma promessa preciosa, um tema para a mais profunda meditação! O incomparável amor de Deus por um mundo que não O amou! Esse pensamento tem um poder capaz de dominar a alma e de tornar a mente cativa da vontade de Deus. Quanto mais estudamos o caráter divino à luz da cruz, mais vemos misericórdia, bondade e perdão mesclados com eqüidade e justiça, e mais claramente discernimos as inúmeras evidências de um amor que é infinito e de uma compaixão capaz de superar a afeição de uma mãe pelo filho rebelde.

Ellen G.White, Caminho a Cristo, Capítulo 1.

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